Após quatro anos desde seu último álbum de estúdio, o BaianaSystem retorna com “O Mundo dá Voltas”, um projeto que reflete as transformações da banda e da sociedade ao longo do tempo. Construído com influências que vão do som jamaicano ao legado brasileiro, o disco expande a narrativa de “O Futuro Não Demora” (2019) e reafirma o espírito coletivo e experimental do grupo.
Uma narrativa em construção
Descrito como um disco de canções, “O Mundo dá Voltas” desacelera o ritmo frenético que marcou álbuns anteriores, como “Duas Cidades” (2016). Aqui, o BaianaSystem mergulha em melodias introspectivas, sem perder de vista sua potência nos palcos e a conexão com o público.
A obra é estruturada como um enredo, em que cada faixa é um capítulo. “Batukerê”, que abre o disco, convoca o ouvinte a celebrar a ancestralidade e a resistência. Já “A Laje” nos leva a um despertar contemplativo, enquanto “Porta-retrato da Família Brasileira” retrata a vida nas comunidades, com suas dores e belezas.
Explorando sonoridades e gerações
Um dos destaques do álbum é a integração de diferentes gerações da música brasileira. Do mestre Gilberto Gil à jovem cantora Melly, o disco une vozes e influências diversas, criando um diálogo atemporal. Essa abordagem busca “descaracterizar o que é velho e novo”, como define o vocalista Russo Passapusso.
Outros nomes de peso estão presentes, como Emicida, Anitta, Pitty e Seu Jorge, além de participações internacionais, como Dino D’Santiago, tecendo a complexidade sonora que define o projeto.
Assim, o BaianaSystem também explora harmonias pouco usuais para o seu repertório, como o raggamuffin descontraído de “Magnata” e os arranjos sinfônicos da Orquestra Afrosinfônica. Inspirados por músicos como Pharoah Sanders, a banda gravou as seções de sopro antes de construir as demais camadas das músicas, um processo inovador em sua discografia.
A Transposição Para os Palcos
Com um repertório tão diverso, a banda enfrenta agora o desafio de adaptar as faixas para os shows. Canções como “Balacobaco” e “Magnata”, mais explosivas, já são vistas como candidatas para o trio elétrico do Navio Pirata, enquanto faixas mais introspectivas levantam dúvidas sobre como serão recebidas nas ruas.
Para o BaianaSystem, o palco é o lugar onde a música ganha vida. “O carnaval é o melhor laboratório. Na rua, as pessoas se entregam, e tudo faz sentido”, comenta Russo.
A essência do movimento
Mais do que um álbum, “O Mundo dá Voltas” é um retrato da jornada do BaianaSystem e das pessoas que cruzam seu caminho. O trabalho celebra a diversidade cultural, questiona barreiras geracionais e nos convida a refletir sobre o tempo e o movimento.
Com essa nova obra, o BaianaSystem reafirma sua posição como um dos projetos mais inovadores da música brasileira, provando que a música não é só para o presente, mas também um legado para o futuro.